quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Relato de uma velha cética.

Tento me convencer de que tudo não é uma perda de tempo, mas cada dia que passa fica mais difícil. Coisas pelas quais eu morreria ontem, hoje eu já nem sei mais o que são. Passei os últimos anos acreditando que era movida a loucura e paixão, que era movida pelas palavras e pelo desejo dele e hoje eu não sei nem pronunciar o seu nome. Isso me desespera. Eu olho pra trás e tudo que vejo são bares, bebidas, drogas e caras... Passei os últimos anos na rua tentando ocupar minha mente com coisas que não fossem ele e agora que eu voltei desse mundo estranho eu não sei quem sou e onde estou. Acho que dei uma volta e acabei no mesmo lugar. Três anos atrás eu vivia apática, não tinha vida, não tinha nada...Depois ele apareceu e injetou todo o sangue nas minhas veias só pra poder chupar tudo novamente, e agora estou eu no mesmo lugar, apática... O que mudou foi que ganhei rugas, idade, um pulmão e um fígado estragados, coragem para enfrentar as ruas e os balcões solitários dos bares da Augusta, parei de “querer”, perdi o medo e hoje só tento gastar o tempo que me resta (inútil... sempre inútil...) da maneira menos entediante possível. Eu costumava dizer que a minha loucura não tinha cura, minha loucura era andar cega atrás de poucos objetivos, mas o tempo me mostrou que esses objetivos eram vazios, e que eu poderia continuar procurando objetivos que eles continuariam sendo em vão, fossem eles quais fossem... Mas, às vezes, eu sinto falta da minha loucura... “Viver com os olhos vendados é mais fácil”.

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