quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Larguei meu emprego, minha casa e família, minha vida de pessoa “correta e decente” e entrei em um ônibus qualquer. Não sabia pra onde ele ia, não li o letreiro. Com a pouca grana que eu tinha fui entrando e saindo de hotéis sujos e baratos, e comendo uma vez a cada dois dias pra economizar. Fui pulando de cidade em cidade, pedindo carona, conhecendo pessoas e vendo como elas viviam, umas viviam como eu vivia, outras de maneiras completamente diferentes. A grana acabou, lavei pratos em troca de comida e peguei bebida e cigarro de mendigos enquanto eles dormiam. Me apaixonava por alguém em cada cidade que passava e sempre prometia voltar...Apanhei, dormi em chão de concreto e meu corpo vivia dolorido, eu vivia cansada, descabelada e sujinha, mas me sentia extremamente livre. O fato de saber que eu estaria em um lugar diferente no dia seguinte e não saber absolutamente de nada do que estava me esperando me dava forças e me fazia continuar... A única certeza que eu tinha era a de que eu não queria voltar, voltar pra minha vida com televisão, computador e chuveiro quente. A vida que as pessoas costumam chamar de “calma e perfeita” tinha um preço muito caro pra mim, muito caro! Eu vi cinco anos da minha vida jogados fora, eu não fiz nada nesses últimos cinco anos a não ser acordar de muito mau-humor muito cedo, ir pendurada na porta de um ônibus por mais de duas horas todos os dias até o trabalho, trabalhar de segunda a sábado com pessoas que nem sabiam meu nome, fazendo coisas que eu nem sabia o que eram, ganhando pra pagar meu almoço, minhas cervejas e meus cigarros... Todos os dias, nesses longos cinco anos, eu sabia exatamente como meus dias começariam e terminariam, eu até torcia pra cair do ônibus, ou ser assaltada, ou ganhar na loteria e não ter que olhar pro meu chefe nunca mais (mas eu não jogava... não ganharia nunca mesmo... a opção mais viável era a de cair do ônibus anyway...) Seria legal ter algo diferente, só pra sair da rotina, e foi quando, finalmente, percebi que eu não precisava viver assim e, sem pensar muito, embarquei. Nada contra a vida de todos, nada contra ter dinheiro (a vida é mais fácil com ele...) ter TV e chuveiro quente, aproveitem!

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