sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Conversa de bar nº1/ “Não provoque uma maluca (ela pode não estar curada)”.

-Quero sumir...
-Pra onde?
-Não sei, quando se some não existe onde, só como...Some comigo?
-E como vamos viver?
-Vivendo... Cada dia podemos acordar em um lugar diferente, transar em um lugar diferente, termos bons momentos e se foder grande... Cada dia em um lugar... Cada dia em uma paisagem nova... Você vai comigo?
-Não... A gente merece uma vida boa...
-Vida boa não quer dizer ter TV/Computador/Carro na garagem... Somos inteligentes, podemos nos virar... Vamos?
-Não.
-Ok.
-Aha...Ok? Porque você é assim? Tão fria?
-Eu não sou fria. Você não quer, não posso te obrigar... Quer que eu faça o que?
-Mas você nem se abala...
-Era isso que você queria? Me abalar? Eu já me abalei bastante. Só um olhar seu já era o suficiente pra me deixar jogada na sarjeta cheia de arranhões, com os olhos vermelhos e tufos de cabelos nas mãos... Lembra que quase te matei uma vez quando te vi com ela? Nem posso acreditar que desperdicei tanta energia emocional com você...
-Você é maluca! E criou uma história tão maluca quanto você nessa sua cabeça bagunçada...Eu nunca nem te dei esperanças...
-Hm... Não quero falar sobre isso... Assunto chato!
-E você sabia que eu era apaixonado pela Fabiana...
-Hm...
-Nunca que eu a largaria, ela era a garota perfeita e você sempre foi maluquinha...
-Shut up!
-Viu, eu ainda te abalo...
-Me dá seu cigarro?
E a garota, fria e calmamente, apagou o cigarro na bochecha do rapaz, levantou-se, deu um beijinho em sua bochecha queimada e atravessou a rua... Ele conseguiu o que queria.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Eu fui feita pra decadência. È assim e ponto. Algumas pessoas nascem pra trabalhar e ter família, outras nascem pra serem grandes coisas, grandes escritores, empresários, isso ou aquilo. Algumas nascem pra se fuderem, outras pra fuderem os outros...E eu nasci pra viver debaixo da terra. Descer escadas de bares escuros, ficar fedendo a cigarro, suja da saliva de homens, machucada por arranhões de vagabundas, nariz ardendo de pó, fígado estragado de cachaça, olhos mareados e coração vazio. Já tentei ficar vendo essa vida pela janela, mas quem conhece o inferno não consegue ficar longe dele por muito tempo, porque sentimos muito frio e quase congelamos quando estamos longe de suas chamas aquecendo nossos corpos.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

I NEVER TOLD YOU WHAT I DO FOR A LIVING

Conto (meu, sob o pseudônimo de Rita Valdes) publicado em uma coletânea da Mojo Books.

Um cara elegante, usando terno, cabelos bem penteados pra trás e barba bem-feita, com um ar irônico, segura minha mão e diz que eu fiz a coisa certa, diz que eu sou uma mulher livre agora. Esse mesmo homem está com a cabeça caída na mesa do escritório, com uma faca enfiada no pescoço. Realmente me sinto mais livre... Rock, pó, álcool, barulho, homens, mulheres, todas têm um sorriso lindo depois que você cheirou todas as carreiras possíveis, até mesmo as banguelas. E eu amo todas elas. Quero experimentar todas as mulheres do mundo, me apaixonar por todas, pelo menos por meia hora... E quero ter os caras também, quero que se apaixonem por mim e me deixem passar por cima deles, exatamente do modo como já passaram por cima de mim. O coração bate rápido, sinto falta de ar, estou tonta; ouço som de batidas, me perco na estrada, fujo e acordo em um hotel. Ainda não sei distinguir se o que aconteceu foi real ou mais uma viagem, uma bad trip qualquer. Cada dia que passa fica mais difícil saber o que é verdade. Volto para o mesmo lugar, e o cara continua na mesa, o sangue ainda escorre... Ou eu matei esse cara ou esta é minha maior bad trip ever... E isso não me assusta.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Sinais de cura.

Eu não abro mais seus emails, não respondo mais suas mensagens, não quero mais sair com você, não te acho o cara mais lindo que já conheci e nem o que beija melhor e que tem gosto melhor e perfume mais gostoso. Não penso mais em você 24 horas, só umas 12 horas, e só pra lembrar-me de te esquecer. Eu não me imagino mais com você aos 50 anos de idade e nem cuidando de você no seu leito de morte. Me diverte saber o quanto você está desesperado, se pintando de dourado e pulando na minha frente para ser notado, dizendo: “Hey! Não se esqueça... eu sou o cara que roubou seu coração e nunca mais vai te devolver.” Primeiro: eu não gosto de dourado. Segundo: Você tem razão, você roubou meu coração e provavelmente não o terei mais de volta, mas aprendi muito bem, durante esses longos anos, a viver sem ele. Eu não preciso do meu coração, pode ficar com ele... Ainda existe sangue correndo nas minhas veias...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A garota que cansou de gritar.

Passei a vida toda tentando fugir da tão chata normalidade. Não queria emprego, não queria namorado, não queria amigos e não queria viver. Queria gastar meus minutos ouvindo boa música, bêbada, viajando e dormindo. Só queria dormir por longas horas, até que chegasse o dia em que eu não acordaria mais. O tempo passou e eu vi que não adianta brigar nem correr, não adianta mandar todos os seus chefes se fuderem, nem sua família a merda, nem mandar seus amigos irem tomar no rabo. Não adianta agarrar caras a força, morder lábios, gritar e sair correndo pelada na rua. Não adianta ficar puto, e nem adianta festejar e ficar puto amanhã de novo. Fui me cansando e me deixando levar, como se boiasse no mar de braços abertos e olhos fechados, sendo guiada pelo vento e pelas ondas. Alguns momentos são calmos e em outros as ondas me viram e quase me afogam... E eu não faço nada, porque me debater e tentar nadar contra a correnteza só me faz cansar e me desesperar, e sei que no final continuarei a boiar neste mesmo mar.